Ana Margarida sai todas as quartas-feiras de sua casa, no Jaçanã, na zona norte, e vai até o centro da capital para fazer uma atividade que ama: andar a cavalo nas aulas de equoterapia do Regimento de Polícia Montada 9 de Julho. Ela nasceu aos cinco meses, e, por conta da prematuridade, foi diagnosticada com paralisia cerebral, que afetou os movimentos do corpo da cintura para baixo.
Desde então, há 44 anos, ela faz vários tipos de fisioterapia para não atrofiar os músculos e continuar andando, o que faz hoje com a ajuda de um andador. No entanto, de todos os tratamentos que já fez ao longo da vida, segundo ela, nenhum se compara à equoterapia.
“É o mais completo, porque só de você estar sentada no cavalo já se movimenta. Além de mexer no equilíbrio, é sensorial, você percebe tudo que está acontecendo à sua volta. Dá um resultado muito bom”, conta.
A equoterapia é um método terapêutico e educacional que usa o movimento do cavalo para estimular o desenvolvimento neuropsicomotor de pessoas com deficiência. Ou seja, o animal faz o paciente trabalhar diversas áreas do corpo que geralmente não consegue no dia a dia.
“O cavalo simula o andar humano, e isso ativa as sinapses e os neurotransmissores, fazendo com que essa área do cérebro que não era trabalhada seja ativada. Ele tem um movimento tridimensional – para cima e para baixo, para frente e para trás, para um lado e outro – e consegue proporcionar, independentemente da vontade da pessoa, a ativação muscular, seja de relaxamento ou contração”, explica o capitão PM Reis, responsável pelo setor da equoterapia no Regimento.
Com meia hora de sessão toda vez por semana, Ana sente melhoras significativas na qualidade de vida: “A minha postura melhorou muito, agora eu ando mais reta. E a minha lombar também dói menos”, relata. Ela pratica o método há 20 anos e, desde 2006, faz as aulas no Regimento.
Além do cavalo, que é o principal ativador do processo, o tratamento também conta com o condutor do animal, um psicólogo e um fisioterapeuta. Rafael Maia, que trabalha há 5 anos no Regimento pela Associação dos Policiais Militares com deficiência do Estado de São Paulo (Apmdfesp), conta porque considera o tratamento tão especial.
“A sintonia do paciente com o cavalo transforma a questão temperamental. Eles saem com mais disposição, mais felizes. Com 30 minutos em cima do cavalo, só a passada do animal, faz o paciente contrair involuntariamente 3.500 músculos”, explica.
Controle da hiperatividade
A melhora pelo tratamento também é notada pela mãe do Léo, de apenas 3 anos. Ele tem autismo nível 1 e transtorno de hiperatividade, o que faz com que fique muito agitado e não tenha controle dos movimentos. Porém, desde que começou a fazer equoterapia, isso mudou.
“Desde que começou, ele tem se tornado alguém com mais capacidade de sentir, de entender as coisas e, principalmente, de se acalmar. Antes do tratamento ele era muito agitado e não conseguia entender o seu próprio limite. Com o tratamento ele percebe o quanto é importante se acalmar para poder subir no cavalo e estar concentrado no animal para tratar ele com carinho”, diz a mãe, Evelyn Ferlin.
Os cavalos usados na equoterapia são mansos e dóceis, escolhidos a dedo para cada tipo de paciente. Além de melhorar a saúde, o animal também trabalha aspectos da área afetiva e emocional, como medo, tristeza, alegria, empenho e coragem. “Parece que o cavalo sente que você está ali e quer te ajudar. Ele se entrega mesmo para você”, conta Ana.
O trabalho na área da saúde e social da equoterapia no Regimento de Cavalaria 9 de Julho acontece de segunda a quinta, das 14h às 17h. Com seis meses de duração, é voltado para policiais militares, familiares de policiais e também para o público geral.
Os interessados em praticar podem mandar um e-mail para equoterapia@policiamilitar.sp.gov.br. As vagas são limitadas e o paciente precisa ser aprovado pela junta médica do Regimento.
Com informações do Portal do Governo