Por Marli Romanini

    O trabalho de voluntários do projeto Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, acaba de completar um ano no monitoramento da qualidade da água do córrego do Onofre, em Atibaia.

    Nesse período, prevaleceram índices ruins para o corpo d’água. Foram sete meses de qualidade ruim contra cinco com resultado regular. O Onofre abastece cerca de 25% da população da cidade, em bairros como Caetetuba, Jardim Imperial, Jardim Cerejeiras e Nova Atibaia – e, como um manancial exclusivo do município, sua preservação deve ser priorizada.

    O monitoramento, realizado por meio do Observando os Rios, é feito com um kit fornecido pela SOS Mata Atlântica e produz, a partir da colaboração de cidadãos, um índice de Qualidade de Água (IQA) similar aos utilizados pela CETESB.

    Foto: Marli Romanini

    Em todo o país, voluntários monitoram 231 cursos d´água, em 125 municípios de 17 estados brasileiros. O projeto traz um panorama independente da qualidade dos rios monitorados e estimula a participação e discussão social das políticas públicas de preservação.

    A coleta da água é feita ao final de cada mês, próximo à foz do Onofre, na altura da ponte próxima à Estação Atibaia.

    Dentre os parâmetros observados neste primeiro ano, o Córrego do Onofre apresentou odor fétido, ausência de peixes, larvas e mata ciliar, alto índice de coliformes fecais, baixo nível de oxigênio dissolvido e altos níveis de fosfato e nitrato. Esses resultados apontam, sobretudo, para a presença de esgoto doméstico sem tratamento. Os fosfatos são indicadores, ainda, de detergentes não biodegradáveis, o que inibe a presença de vida no córrego.

    “Apenas quando há chuva no dia anterior à coleta da água é que o resultado da avaliação apresenta regularidade. Caso contrário, é sempre ruim”, afirma Marli Romanini, uma das voluntárias. Segundo ela, o mês passado, de abril, foi o pior da série anual.

    A voluntária do Coletivo Socioambiental de Atibaia, Bruna Locardi, lembra que o Córrego do Onofre é considerado pelo comitê de bacias regional o manancial alternativo da cidade.

    “Isso significa que, mesmo que, no futuro o abastecimento seja totalmente garantido pelo rio Atibaia, o Onofre preservado daria mais segurança hídrica em caso de seca ou outro tipo de emergência do manancial principal”, explica.

    Segundo Bruna, indicar ao poder público as condições reais do córrego é uma ferramenta para que se possa agir e mudar a realidade.

    Foto: Marli Romanini

    Para Edineia Prado da Costa, voluntária e participante da Expedição pelas Margens do Córrego do Onofre, o Observando os Rios confirma a necessidade de ações efetivas por parte do poder público para a recuperação e preservação do córrego por meio do tratamento de esgoto e da recuperação do leito do rio, assim como através da implantação de parques lineares. “A água é um direito de todos e deve ser cuidada para garantir uma vida digna e saudável para a presente e as futuras gerações”, diz.

    Responsabilidade de todos
    O objetivo do projeto é coletar dados sistematizados para atuação na gestão participativa do município. Por meio das análises, é possível diagnosticar a saúde do meio ambiente no entorno do Onofre – que é responsabilidade de todos –, identificar os principais problemas e buscar soluções integradas que possibilitem a recuperação do rio.

    Gustavo Veronesi, geógrafo e coordenador do Observando os Rios na SOS Mata Atlântica, alerta para a importância da iniciativa.

    “A produção de água limpa precisa ser uma das prioridades das gestões públicas. No entanto, sabemos que o tratamento de esgoto sanitário no Brasil é baixo, transformando muitas vezes os corpos d’água em canais de esgoto in natura. Além do atraso, esse tipo de atitude põe em risco a sobrevivência das gerações futuras, pois a água doce é um bem finito e já escasso em várias regiões do mundo. Daí a importância de termos pessoas comprometidas em analisar a qualidade dos rios, numa atitude cidadã que ajuda a levantar questões, propor soluções e cobrar ações por parte dos responsáveis”, completa.

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    Márcio Costa, jornalista e radialista, inicia sua carreira em 1983 como locutor noticiarista em Sorocaba. Em Atibaia, em 1988, implanta um formato inovador na FM local com entrevistas e transmissões ao vivo. Em São Paulo, atuou em rádio e televisão por mais de 25 anos. Em 2015, cria o jornal g8.