É muito comum ouvirmos críticas com relação ao sistema público de educação e atrelar o fracasso escolar ou insucesso do aluno a esse sistema. Afinal, é possível o aluno de escola pública ter sucesso?
A partir do momento que consideramos o sistema público educacional falido, já estamos rotulando automaticamente os alunos ao fracasso também. Como já citei anteriormente, temos muito o que melhorar na educação pública no Brasil. Sabemos de todas as fragilidades e desafios que nós, profissionais da escola pública, enfrentamos diariamente.

No entanto, sabemos também que mesmo diante deste cenário desafiador encontramos alunos que souberam usufruir do melhor da escola pública e hoje são “cases” de sucesso, seja por terem sido aprovados em universidades concorridas, em concursos públicos ou até mesmo sendo profissionais de sucesso. Mas, afinal, a que se deve esse sucesso? Quais fatores influenciaram esses alunos de escola pública a serem bem-sucedidos?

Primeiramente eu atribuo, sem dúvida alguma, à oportunidade desse aluno de sucesso de ter estudado em boas escolas públicas e ter tido professores inspiradores, que também acreditam no potencial dos estudantes.

Outro quesito que eu considero de extrema importância para o sucesso do aluno na escola pública é ter altas expectativas. Mas o que quer dizer essas “altas expectativas”? O aluno deve estar inserido no ambiente que incentiva a cultura das altas expectativas. Tanto por parte dos professores quanto da família. E a premissa da cultura das altas expectativas é que todos são capazes de aprender.

É urgente e necessário desmistificar que o aluno da escola pública, principalmente oriundo de classe social mais vulnerável, não tem capacidade de aprender. Já foi comprovado por pesquisas internacionais que a criação de uma cultura de altas expectativas nas escolas é uma estratégia poderosa para a melhoria dos resultados de aprendizagem e caminha de mãos dadas com a busca incessante pela equidade. Acreditar que todos os alunos são capazes de aprender e atingir os níveis de aprendizagem previstos significa direcionar esforços para que todos sejam contemplados e incluídos. Independente de cor, gênero, origem social ou orientação sexual. Sendo assim, criar a cultura de altas expectativas na escola é um fator importante para o sucesso do aluno.

Outro ponto extremamente significativo para o sucesso do aluno é a presença da família no processo escolar dos filhos. Além do acompanhamento e incentivo familiar no dia a dia escolar, as atitudes dos pais e as suas expectativas influenciam as escolhas das crianças.

Se os pais não acreditam que podem chegar mais longe é muito provável que os filhos incorporem essa condição. É muito comum vermos famílias dizendo: “Ah, sempre foi assim, a minha família sempre foi assim”. Agindo desta forma, o aluno deixa de estar inserido na cultura das altas expectativas. Com isso, a atitude dos pais também é um fator importante para o sucesso do estudante.

Outro fator muito relevante e decisivo no sucesso escolar do aluno egresso da escola pública é a rotina de estudo. O universitário tem que se conscientizar de que a rotina de estudo vai além da escola. Essa rotina em casa é fundamental e, para isso, se faz necessário planejamento e muito foco no estudo.

Por fim, pela minha experiência de mais de 22 anos na escola pública, venho aqui afirmar que é possível sim fazermos dos nossos alunos os melhores e que tenham as mesmas oportunidades dos estudantes da escola privada. Sabemos que é desafiador, porém não é impossível, até porque vemos com certa frequência noticiários de alunos de escola pública sendo aprovados em vestibulares de universidades públicas.

* Márcia Bernardes é conselheira titular do Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE-SP), assessora pedagógica na Secretaria de Educação do Estado de SP, professora universitária da UniFaat Centro Universitário e formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia, Supervisão Escolar, Gestão na Educação Infantil e Alfabetização.

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Márcia Bernardes é conselheira titular do Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE-SP), assessora pedagógica na Secretaria de Educação do Estado de SP, professora universitária da UniFaat Centro Universitário e formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia, Supervisão Escolar, Gestão na Educação Infantil e Alfabetização.